quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

P.



O olhar de P. não se conjugava com suas intenções

Enquanto ele caminhava com suas sandálias de Apolo

Alguns olhares disfarçadamente jamais o abandonavam

E P. sorria distraído e feroz

Distribuía sorrisos a torto e a direito

Mas não marcava nenhum com seu desejo

Onde poderiam situar-se então suas esperanças

Ele caminhava sério com suas sandálias gregas

Seus pés sempre seguidos por outros insaciáveis

O que conseguiam falar sobre ele era pouco

Mistérios que não pretendia ter esclarecidos

P. em alguns momentos adoece de enxaqueca

Dorme e todos se preocupam quando ele dorme

Ele observa outros homens movimentarem-se

O reflexo dos músculos em seus olhos...

P. talvez saiba demais sobre os mecanismos da máquina

Do humano, seu forte desinteresse pela psicologia

As pessoas que ousa amar são diferentes (os perseguidos)

Difícil descobrir com que P. sonhava

Se com rios de dinheiro, se com palavras amenas

O que ele demonstrava era apenas vertigem

De outra espécie eram os fatos que o surpreendiam (até)

Mesmo seus desejos abcessos não o aborreciam

Ele circulava por entre homens como serpente

(A sedução) era sua arma ausente

Seu corpo era um campo inexpugnável

As dinamites que explodiam por sobre ele

Abriam zonas de saboreamento e de morte

Ele dançava com garras feito escorpião (animal)

Desejar era morrer junto com o desejado

P. distribuía olhares a torto e a direito

E os que imaginam cair em sua armadilha

Morrem desgraçados em eterna ilusão

Ele saboreia do próximo alheio o sofrimento

Gozando, desvairado com sua própria desaparição

P. domador de leões...

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