quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Ele



Ele marcara um ponto em seu botão
As feras que poderia ter vencido
Cantou músicas em algumas esquinas
Homens circulando olhares embriagados
Ele muitas vezes se punha de prontidão
As esperas que ele ousava enfrentar
Um dia conhecer as dores de seu corpo
E nunca mais seu sono foi o mesmo
O olhar agora diferenciado para o outro
Algo que crescia por fora dele
O confronto com o desejo inesperado
E uma súbita confissão de culpa
Ele um dia conheceu o poder do fogo
E o poder da palavra morte
Houve um tempo para ele o do passado
E um presente tedioso em demasia
Seu futuro prometia menos ainda
Ele caminhava como quem flutuava
Ignorando elementos fundamentais
E calava o ardor que seu corpo emanava
As nuvens lhe eram densas como rochas
E o carinho buscado sempre alhures
Ele um dia confrontou-se com a posse
E percebeu o quanto era de menos
E não cabia nele algo mais valioso
Que a própria percepção de seu espaço
Ele um dia partiu livre pelas montanhas
E seu corpo um dia inerte, bruto

Lama




Ele caminhava chafurdando em lama
Inclinando a cabeça para o lado leste
E longe de bater-se com fúrias assassinas
Era alimentado por seu leite eterno
Vivia bem entre os homens e os animais
Satisfazendo todas as suas necessidades
E longe de flutuar por mundos infernais
Calculava seu ganho a cada passo
E o que esperava não era nada mais
Que diariamente o leite quente
E então poderia transbordar de alegria
Ensaiando as farras para a noite
E a lama era seu único mundo
A companhia dos porcos...

domingo, 27 de janeiro de 2013

Tédio



À tarde
as andorinhas penduram-se nos fios
cantam tristes o passar das horas
No céu

nuvens formando imagens
com duração limitada
O tédio invadindo as noites



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Um homem



Um homem chega e seu chegar é
Calmo como passos em seda
Viajante noturno vem de longe
Trazendo lembranças de outrora
Fotografias de pessoas velhas e novas
A mala cheia de arqueologias
Um homem chega a qualquer lugar

Filosofia dos sapos

Tergiversam os sapos na lagoa fresca
Sobre a provável origem do seu povo
Seriam eles descendentes dos macacos
Ou seriam sementes de extraterrestres
Teriam sido criados por um deus
Discutem os sapos acaloradamente
Sem perceberem o inimigo a aproximar-se...
De que vale tanta filosofia?

SENTIDOS



Lá se vai o tempo do sossego
O vermelho tingindo o azul do mar
Plantas que apodrecem pelo quarto
A amada sempre a reclamar
Lá se vão os anos de sonho eterno
A brisa fresca tornada em furacão
A insandescência do mundo...
Vadias as noites do insone púbere
Cabeça cheia de imagens flutuantes
Pedaços de corpos que se tocam
Humidamente e aprontam o espetáculo
Acordar sem perguntas a responder
O sol ainda escondido no zênite
Nuvens negras que flutuam descontroladas
Viajantes entorpecidos pelo ácido
Passeiam por campos ermos e floridos
Sintonizando seu pensamento comum
E no horizonte lúgubre uma imagem
Eterna e eternamente realimentada
Pisando chãos cobertos de lama
Vagueiam insensatos homens perdidos