domingo, 24 de fevereiro de 2013

Grilhões



Um homem com grilhão na perna
Luta contra a força do vento
Inquietude em seus passos arrastados
Rouquidão em sua voz purpúrea
Um homem com o sexo à mostra
Luta contra a força do desejo
Seu pensamento que percorre o mundo
As dores de seu corpo que clamam
Por uma solução vinda de longe
As varizes, o pus em sua pele
Um homem sangra pelas narinas
O gosto amargo do líquido em sua boca
Palavras pronunciadas no sacrifício
Sua voz que soa entrecortada
Passos lépidos sobre folhas úmidas
Um homem amarrado e sem coração
Os grilhões um dia eternamente herdados
Contam sua história e ele chora
Pois é a história de qualquer um
O parto, a moça, o vazio, o sol...

Vazio de ser



Agruras desmedidas
Onde as marcas da traição?
Um corpo que se denuncia
Mas nenhum olho que vê
Tempo carcomendo espíritos
Feridas abertas em pânico
Uma religião ausente
Basta de explicações fúteis!
De ignóbeis vícios da razão
Um trabalho a mais deve ser feito
Um longo e desditoso trabalho
O corpo tomba sem nome
Pior: sem sentido!
Um passado que ele não deixou
Um vazio na história
A teoria não dá conta disso
Uma prática daria?
Sonhos que vem e vão
A imperfeição do mundo
O barco em que todos navegamos
Rumo ao nada-ser

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Tabuleiro




Valete
A rainha descontente
Um rei vingativo
O ministro que tudo sabe
Valete inconsequente
A rainha grávida
O rei inconsciente
O ministro que tudo vê
Valete pueril
A rainha insatisfeita
O rei adormecido
O ministro que não age
Um reino distante
Onde o povo passa fome!

Senhores da Guerra



Os parâmetros da revolução
Armas em ombros em chamado
Tiros que destroem ouvidos
Clarões na linha do horizonte
Os cães eternamente a vigiar
Os corpos aos pedaços pelo campo
Em salões nobres homens a sorrir

Noite



A cidade anoitece abrupta
Convidando a que se a viva
Os bares lotados de adolescentes
Rock e drogas o sexo ausente
Convites a uma pluralidade
Assuntos que distanciam sujeitos
A cor da noite inebria as
Sensações que não compreendemos
Valores que temos que abandonar
Pessoas a serem esquecidas
Dança sob a música louca
Corpos que se destroçam em encontros
Mais destroçada ainda a alma
Pus pueril e incicatrizável
A localização das dores do corpo
Anestesiadas pela ingestão de álcool
Um canto triste do mundo
Nem sempre fora de nós
Os jovens e seus cajados
Muletas que raramente se sustentam
A queda imediata e feroz
Corpo ralado, sangue, vômito
Amigos nem sempre por perto
Às vezes uma namorada esquecida
Mentes que circulam pelo salão
Os faróis altos, sinal de alerta
Diversão lacônica e pueril
Rock, drogas, o sexo ausente.