domingo, 29 de setembro de 2013

Ósculo


Tocar de leve uma face ensolarada
E ele ri de nossa doce intensão
Permite que o beijemos
Um beijo de paz e amizade
Permite que sintamos seu agradecer
Comovido ele olha-nos encantado
E ri de nossa doce intensão
Por que não amar um verdadeiro amigo?
Por que não rejubilar-se com sua presença?
Beijá-lo em nome da paz e da amizade
Tocar de leve sua face ensolarada
E ele ri de nossa doce intensão
Falar-lhe da cruel importância
De sua presença constante
Rir de seu riso encantado
A que ele sempre se permite

Ante nossa doce intensão

Ajoelhe-se

Se meu cão pula o muro do quintal
Se o guri assalta a padaria da esquina
Ajoelhe-se, pois isso é o mundo
Se a polícia rouba como bandido
Se o papa proíbe a masturbação
Ajoelhe-se, pois isso é o mundo
Se os Beatles podem ser esquecidos
Se o dinheiro não vale mais nada
Ajoelhe-se, pois isso é o mundo
Se o seu melhor amigo rouba sua namorada
Se o seu patrão rouba o seu salário
Ajoelhe-se, pois isso é o mundo
Mas ajoelha para imediatamente se levantar

E reagir com um forte golpe no inimigo

sábado, 7 de setembro de 2013

Fênix do Rio – 02/11/93

A morte veio acalmar seu fogo
Pena que tiveste que ir
Tão cedo quanto sua vinda
Deixas tua imagem no cinematógrafo
Ainda me lembro dos seus 15 anos
Loiro e pequeno, querendo ser grande
Lutavas em vão contra poderes
Que então não compreendias
De cabelos curtos ou cabelos longos
Suas faces rosadas no vídeo
Por que, ai, por que essa ida súbita?!
E morres em meio a tantas mortes
Que obscurecem teu desaparecimento
Então, o que andavas fazendo
Por que rios foste levado
Há uma dor dentro do meu peito
Queria não saber que partistes
Cegueira talvez necessária
Fica sua alegria no vídeo
Seu chapéu e seu chicote à mão
Seus abraços ao jovem Reeves
Que ficou quando tu fostes
Belas imagens eternizadas
Que mantém teu corpo intacto
A salvo do envelhecimento que
Calmamente renegastes
Quiseste morrer jovem...
O amor é cegueira pura
Mais ainda a idolatria
Mas ambos fazem sofrer
Quando se perde a quem se ama
Quando se perde a quem se idolatra
Será que como Fênix

Renascerás das cinzas do rio?

Mortos vivos

Recuperar Beatriz era sua missão
Por isso caminhou entre os mortos
Retirar Sara do mundo sem vida
Por isso caminhou entre os mortos
Enfrentar o demônio em sua casa
Por isso caminhou entre os mortos
Os coveiros em dia de greve
Por isso os mortos caminharam entre os vivos
Que dia esse em que os mortos ressuscitam?
Vem fazer companhia aos vivos
Ou vem igualar-se a seus irmãos
Perguntas escabrosas uns lançam
Estaríamos mais mortos que vivos

Estariam mais vivos que mortos?

O banquete


Traga-me uma chávena de chá
Oh, Muriaki
Concubina de doçura sem fim
Vem teu amo satisfazer
A tua sede sem fim arrefecer
Beija-me os lábios e marca
Com o açúcar o fim da amargura
Mata minha fome de vida e
Sexo com seus seios fartos
Oh, Muriaki, quantos pontos
Quantas posições de prazer
Tens a capacidade de colocar
Um banquete na casa dos sonhos
Da felicidade e da consequência
Mistérios que tu dissipas

Com seu hálito benfazejo

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Velório

Carcomidas mãos que velam um morto
Quase seu corpo morto também
Lábios tremendo balbuciando orações
A um que tem caminho a atravessar
Morto, corpo para um lado, a alma
Para lugar eternamente desconhecido
As mãos carcomidas contam o rosário
Quantas rezas precisa, meu Deus!
Para a salvação de um que se perdeu?
Perder-se em vida e tentar tarde
Encontrar-se novamente na morte
Talvez, talvez, talvez...
Busca-se exatamente esse momento
Encontrar-se na morte
Por que estão os pulsos cortados
Por que está o pescoço dilacerado?
Ainda assim a velha não reza em vão

Pois reza para si mesma

domingo, 1 de setembro de 2013

Nervos

Sangra mil vezes a terra onde vivo...
Um rapaz simplório com garrafa na mão
Esquálido olhando o filho em passo
Já foi o tempo de sua beleza
Agora é o tempo de sua queda eterna
Vive como fantasma sem rumo
A vida oprime e cobra-lhe o preço
Aspecto feito e não assumido
À flor da pele manchas azuis
Por onde corre o sangue vermelho
Protuberâncias sinais de morte
Que nunca chega e sempre vem
Little-boy, satisfação em conhecê-lo
E despeço-me porque a hora chegou
A garrafa explode em pedra achada
Caco avançando veia a dentro
O vermelho por cima do filho
Duas gargantas, duas mortes
Pai, filho e... o pássaro canta

Nervos... ilusões