terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Epopeia (ascensão e queda) de um filósofo

I
1
Mundo caótico, pessoas nervosas
Clamam por justiça em lutas honrosas
Há tanto tempo esperando o Messias
E a ninguém escapa desejos de honrarias
E por qualquer Um eles tolos clamavam.

2
De pais com senso metafísico ele não nasceu
Nem em berço de ouro seu corpo flácido bateu
Seus pais tinham sonho, isso é verdade
Mas com pés grudados tempo todo na realidade
Para muito além da barriga cheia não pensavam.

3
Tratado foi como mais um a surgir
Uma boca a mais para o pão repartir
Primogênito não ser nem caçula seria
Não contavam seus pais quantos filhos havia
Nem mesmo seus nomes importavam.

4
Alegria então ele não trouxe consigo
Sua presença quase que era um castigo
Mas que culpa tinha ele em sua aparição
Se seus pais do processo sem compreensão?
Nem mesmo do prazer que por instantes gozavam.

5
Criado pelos irmãos e quase longe da mãe
(e falta aqui algo que realmente rime com mãe!)
Ele cresceu em meio a faltas e pedidos
Dali donde nunca saem aqueles vencidos
Somente aqueles que de lutar não deixavam.

6
Mandado à escola foi e tentou aprender
O ABC e tudo mais que lhe pudesse render
Mas com o tempo o trabalho também o esperava
E trabalhar e estudar aquilo claro o cansava
E por isso ele e os pais de raiva choravam.

7
Mas não foi em vão que manteve certo hábito
Embora ás vezes lhe atingisse o látego
De ler pedaços de papel escrito
Embora isso para seu pai fosse proscrito
As letras frente a seus olhos dançavam.

8
A pobreza reinava eterna naquela casa
E dores sentiam como fogo em brasa
O trabalho árduo marcas no corpo fazia
E na terra por perto gente jazia
Que há muito suas vidas findaram.

9
Cada filho que nascia era-lhes um peso
A nenhum esperava um canto de desejo
Mas como parar tal cria não sabia
A mãe que sobre tudo aquilo desconhecia
E os filhos lançados à sorte ficavam.

10
Com eles as coisas não foram diferentes
Não teriam agora seus pais uns repentes
De mudar suas vidas por atender àquele
Que seria como um outro, sentindo na pele
A fome e o abandono que sem dó queimavam.

11
Quando do útero da mãe foi cuspido
Com sangue junto ele foi vertido
E nos olhos daquela podia se ver
Para aqueles que isso pudessem ler
Lágrimas de dor esperança que assomavam.

12
O que ela nele no momento pressentiu
Em nenhum outro filho perceber conseguiu
Um brilho diferente em seu olhar
Que a levava àquele filho mais amar
E suas dores ainda mais fortes bradavam.

13
Criança tentou ser o mais normal possível
O quanto pode ser em situação tão sofrível
Pois em tudo que podia não era atendido
Seu desejo tempo todo corrompido
Com as respostas que os outros a ele davam.

14
E embora franzino e sempre com fome
E sem dormir como outra criança dorme
Aprendeu com facilidade a reconhecer
O alfabeto e portanto letras ler
Estórias que logo no começo a ele agradavam.

E vemos ele da latência passando
E corpo firme e voz grossa adotando
Aprendendo o máximo necessário
Para sair daquele maldito calvário
Em que ele e os irmãos ainda se encontravam.

16
Cresceu forte e a vida dos pais ajudou
E ajudando a si mesmo prosperou
Não em dinheiro, que no entanto tinham
O suficiente para despesas que lhe convinham
E por melhor sorte a ele todos rezavam.

17
Deixamo-lo em pensamentos perdidos
Que para seus pais um tanto atrevidos
De mudar-se e ir para outro lugar
Pois coisas diferentes pretendia estudar
Mundos que sabia por ele ainda esperavam.

II
1
Planos já tinha ele em como fazer
Lugar para morar, dinheiro com que viver
Precisava também imediatamente
De um curso que o deixasse contente
Que de alguma forma pudesse levá-lo ao céu.

2
Previa duras lutas ter que travar
Conquistando, poderia montar seu lugar
Entre aqueles que um dia podem sorrir
E terminado tudo poderia partir
E poder viver a vida entre flores e mel.

3
Sonhava ele com isso demasiado?
Não percebia ao seu redor mundo irado?
Tinha os olhos fechados para a situação?
Que poderia facilmente ser levado de roldão?
Que poderia não suportar as rodas do carrossel?

4
Do que queria desistiria jamais
Foi quando leu notícia nos jornais
De como poderia a seu curso aceder
Só teria que um texto escrever
Seu nome assinar em pedaço de papel.

5
Já instalado em quarto pouco confortável
Com gente por perto pouco amável
Com emprego e dinheiro suficiente
Sua vida parecia correr diferente
Mas não chegaria a fazer muito escarcéu.

6
Escolhido seu curso e sua faculdade
Prestou exames requeridos sem dificuldade
Esperando pelos resultados pouco ansioso
Mas no dia de saber um tanto nervoso
Porem a resposta vinda não lhe foi cruel.

7
Matrícula feita, primeiro dia de aula
Diferenças percebidas de qualquer outra escola
Que ele antes encarava como lugar de fuga
De uma situação onde não obtinha qualquer ajuda
Onde geralmente se colocava na posição de réu.

8
Digamos já a que curso ele atreveu-se
No qual com razão nas aulas perdeu-se
Pois Filosofia de todos exigia um esforço
E livros e tempo e dinheiro em colosso
E deixou sentir na boca o gosto de fel.

9
Mas ele prosseguia, isolado dos outros
Sentia que dos colegas eram poucos
Que dele gostavam e pediam conversa
Mas mesmo com esses ele tergiversa
E sobre sua vida deixa cair um veu.

10
A Filosofia preenchia agora boa parte
De seu dia, que passava entre Sartre
Kant, Marx e outros que lia
E com seu trabalho na oficina repartia
A alguém que atendia pelo nome Coronel.

11
Passaram dias, meses também passaram
E ele lê, questiona e os colegas mudaram
Chegaram-se mais a ele, com atenção
Pois com seu esforço criou admiração
Que agora, ao passar, tiravam-lhe o chapéu.

12
E leva seu curso por ano com fim marcado
O diploma, não escondeu ele, era esperado
Não se cansava, lutava por seu ideal
A Filosofia moldava agora seu social
Que não estranha se um dia chegar a Nobel.

III
1
Sentando em sua mesa no salão de festa
Ouve desatadamente música tocando
Contando da noite a hora que resta
Para sozinho poder ir andando
E aquela noite terminar sem ter que fingir.

2
Fingia alegria, honra e orgulho
Para todos os próximos de fala alegre
Mas pensava: “como isso tudo engulo
Quando por dentro meu sangue ferve?”
Como gordura em chapa quente a frigir.

3
Terminara seu curso, recebia diploma
Descansava algum tempo antes de continuar
Querer se reconhecido como quem leciona
Ou mesmo muitos livros poder publicar
Sua vida de pensador ter que prosseguir.

4
O que o entristecia era de seus pais
De sua terra e de seus irmãos a lembrança
Ele ali cercado de luxo e tudo o mais
E seu cálculo se colocado em balança
Penderia para o lado que o levava a partir.

5
E a festa que nunca termina, escrota
Ele de um canto ouve voz agradável
Um convite que lhe faz uma garota
Dançar com ela na noite interminável
Ele, assustado, consegue apenas sorrir.

6
Ela insiste e ele a reconhece
Não conversavam muito, turmas diferentes
Mas eis que uma aproximação acontece
E como a vida tem lá seus repentes
A dois desiguais consegue assim unir.

7
Naquela noite que agora parecia curta
Ela o fez deixar de lado a tristeza
Como quem dele os sentimentos furta
E o leva a afastar-se de sua mesa
E fazê-lo o restante da festa curtir.

8
Como não conheceu antes tal pessoa?
Sim, conheceu-a, mas não a notou
E agora em seu ouvido sua voz ressoa
E seu rosto no dela ele colou
Fazendo o que nunca sentiu agora sentir.

9
Terminado o baile, despediram-se os dois
Cansados e felizes um beijo trocaram
Com promessa sincera de encontro depois
E abraçados um pouco ainda demoraram
Como se ainda um resto tentassem suprir.

10
Não foi à toa aquela noitada toda
Não era um sentimento falso o demonstrado
Antes que o coração de ambos exploda
Resolve dela jamais ficar separado
O que fazer agora que não se divertir?

11
E nesse envolvimento todo ele esquece
Dos pais, da cidade e de quase tudo mais
Ainda que esse estado um pouco o apresse
A sua carreira poder terminar em paz
E para o mundo finalmente poder sair.

IV
1
Casa, filhos, cachorro, quintal
Tempos em que talvez mais lazer que pensar
Eis aqui nosso filósofo fulano de tal
Que no entanto não se cansou de trabalhar
Pois a Filosofia ainda é sua paixão.

2
Agora vivendo com a mulher que escolheu
Não pensa ter a “outra” traído assim
Nem mesmo seu velho ideal morreu
Nem sua epopeia tem chegado ao fim
Não tem ele ainda cumprido sua missão.

3
Dá grande atenção à esposa e aos filhos
Dividindo com o ensino na Universidade
Lá ele consegue status e brilhos
Cá manter viva certa realidade
Que não lhe mostre totalmente sua frustração.

4
Já o encontramos novamente questionando-se
Sobre seu passado, presente e futuro
Por que, pensa ele, continuar humilhando-se
Sendo por todos pregado a um muro?
Quando logo começará a perder a razão.

5
Não sente na família ambiente propício
Para seus problemas poder enfrentar
Mergulhar em pensamentos é-lhe um suplício
Como dói-lhe a cabeça quando tenta pensar!
Não reconhece mais o que lhe causa tesão.

6
Anda um tanto alheio do mundo
Mesmo quando seus pais tem morrido
Ele, trancou-se em casa iracundo,
E ali ficou, sem ir ao enterro, decidido
Cansado, culpado, dilacerado o coração.

7
Culpado, sim, passou a reconhecer
A si mesmo como tendo falhado
Falhou com pais e irmãos, que o viram nascer
Falhou com a família com quem agora casado
Não cumpriu em nenhum momento sua função.

8
Pensando, pensando frente a que boquiaberto
Como o caminho de sua vida tem sempre
Seguido errado, jamais dado alguma vez certo
O que corrompe, corrói sua cansada mente
Deixando seu organismo todo em tensão.

9
Fuma muito e quando bebe sofre
A que estado chegou, tão deplorável
Muitas vezes buscou a arma no cofre
Para um ato que julgou questionável
Adiando para outra vez tal solução.

10
“Onde eu falho, em que não posso valer?”
Sua mulher pergunta a ele, penalizada
Ele não a culpa, mas a faz sofrer
Em algo que pode dar e tão cobrada
Por marido e pai, a sua atenção.

11
Não consegue mais de todo saber que adquiriu
Encontrar forma boa de poder transmitir
Pensa que aí a muitos ele feriu
Ao tentar de mentes jovens conhecimentos parir
E o que sabe e ensina não sai da ficção.

12
Pensa ter aportado ao ponto significante
Onde o saber consegue sobre a terra agir
E sua mente, qual  pássaro flutuante,
Resolve-se, incrédulo, novamente partir
Em busca, sempre, de uma nova atração.

V
1
Não encontra mais os velhos amigos
Que um dia deixara em sua terra
Nem mesmo aqueles que um dia perdidos
Num canto por um pedido de ajuda berra
Desesperado quanto a sua existência.

2
Ele mesmo, agora em sua causa
Buscaria deles para seu estado sem remédio
Para seu sofrimento obscura sem pausa
Encontrar nos velhos amigos o fim do seu tédio
Suprir, com o passado, sua prologada carência.

3
Mas os antigos amigos há muito mortos
Tantos anos passados sem reconhecimento
O corpo vergado, os olhos tortos
Tombados pela dor e pelo sofrimento
Sem recurso, esperança ou paciência.

4
Morreram como seus pais tem morrido
E a velha cidade em que um dia nasceu
Mudara, perdera nele todo seu sentido
Já não reconhece o canto em que cresceu
E sente que perdeu parte de sua essência.

5
Volta em visita ao colégio em que estudara
De onde um dia pensou conseguir
Um futuro grandioso, com que sonhara
Que o levou, iludido, para dali partir
Em busca do que?, da valiosa sapiência.

6
Ficara em um hotel por alguns dias
Pensando em um novo caminho de opção
Analisava de seu conteúdo suas crias
Amaldiçoadas por uma incontrolável paixão
Preferiu uma vez da simplicidade a eloquência.

7
Não poderia abandonar seus velhos projetos
Quisesse ou não, sua vida estava ainda presa
Não poderia sobreviver, ir por caminhos retos
Nem mesmo pressentir aonde o fim chega
Abrigando-se com sua adquirida experiência.

8
Soube aprender, no sofrimento inclusive
Partiu, iludiu-se, fez fama e voltou
Se agora seu passado todo revive
Se sua vergonha, sentida, que o corou
Não pode prosseguir com toda essa violência.

9
Mas o que fazer, procurar quais elementos
Em que engajamento, em que luta
Perseguir ideais, de sua mente fermentos
Usar de teoria e prática na labuta
Lutar e pensar, sem abandonar coerência.

10
Eis o non sense de todo filósofo
Nele impregnado, criando vermes
De um corpo que segue no campo lógico
Mas não quer seus músculos quase inermes
Mas sim colocar sabedoria na aparência.

11
Pegar em armas, talvez lavrar o campo
Invadir fábricas, destruir máquinas
Do ideológico sentido limpar o ranço
Da emoção contabilizar as lágrimas
Dos manuscritos filosóficos gerar potência.

12
Preso na cidade, no banco da praça
Pensa ter encontrado agora seu caminho
Movimentar todo o povo, seja na raça
Na estupidez, na violência, outro carinho
Começou seus planos colocar em vigência.

VI
1
Assim, montado em romantismo impensado
De que campo de luta cabe a mudança
Como se lá muito tempo esperado
Ele no meio do ignato povo se lança
Não sabendo ainda onde cabe a Filosofia.

2
Não se pode perceber onde começa
Sua dúvida quanto a esta divisão
Do que na força o saber impeça
A cada douto uma douta revolução
De não ficar somente na fraseologia.

3
Tomada sua decisão ele então parte
A pregar suas ideias em fazendas, sindicatos
Mas, reconhece, o discurso nunca foi sua arte
E como sempre são recebidos os novatos
A cada frase sua o povo, de escárnio, sorria.

4
E por cidades vizinhas começou a fazer fama
Mas não como ideólogo, sábio ou profeta
E sim como um obscuro que verte chama
E assusta quem já tem por certo uma meta
E não conseguem ver nele lances de sabedoria.

5
Mas alguns poucos sentindo-se atingidos
Por seu discurso contra a opressão do povo
Justamente aqueles que mostram afetos fingidos
Que vivem, não do honesto, mas sim do logro
Que alimentam um estado de coisas, ideologia.

6
Espalham sobre a todo canto maldizeres
Que ele não tem mente e nem corpo são
Que tem relações, onde consegue saberes
Que não são terrenos, mas do mais fundo do chão
Que pratica, sendo mestre em feitiçaria.

7
O povo, longe de acreditar em quem
Uma saída oferece para sua pobreza
As ideias de seus próprios opressores seguem
E agora, sem pensar, sob ideias de vileza
Pela paixão, não pela razão, diz a psicologia.

8
E o filósofo, agora levado de corpo e alma
Cumprida sua missão tempo todo pensa
E por instante, em um canto, acalma
Sua língua, sua mente, da palavra densa
E volta, de repente, a uma certa simbologia.

9
Mas o populacho, já investido de vil ideia
Procura-o, não o parando nem o cansaço
Monte aqui e ali, clemente de plateia
Para o que pode vir, onde não existe carrasco
No momento em que se deixa carcaça vazia.

10
Sabendo da perseguição de que era vítima
Ele planeja deixar rapidamente o lugar
Mas presa do medo, uma seguidora caríssima
O representante da turba alcança por avisar
Donde e para onde o perseguido fugia.

11
Para ele então não há mais escapatória
É encontrado e para a cidade levado
E protegido daquele povo que canta vitória
E na prisão é jogado e amarrado
Esperando que não lhe venha nunca companhia.

12
Ali é deixado por noites em escuridão
Não sabendo o que a ele ocorreria
O que pode um povo tomado pela paixão
O que da justiça certamente não aceitaria
E tentaria agir como um bárbaro agiria.

VII
1
Há um momento na vida do homem
Em que em tudo perde as esperanças
Em que de seu corpo suas forças somem
E em sua mente não sobram nem lembranças
Restando na garganta apenas um grito de lamento.

2
Ele tentou de todas as maneiras suas ideias
Para o bem comum colocar em prática
Até mesmo abandonou suas concepções ateias
Deixando uma vida por vereda errática
Para cair indefeso nesse completo sofrimento.

3
Qual é agora sua missão a cumprir?
Já tentou de tudo sem resultado algum
Para a morte ele consegue agora até sorrir
Não vendo no ódio do povo mal nenhum
E parece tentar-lhe essa ideia o pensamento.

4
É que não percebe o perigo que se lhe aproxima
Pois o povo, não sabendo por que, pede vingança
E alguns, armados de paus e pedras, sobem a colina
E um brado ao vigia de longe se lança
Um pedido, ele fez-se ouvir, para um linchamento.

5
Longe de receber proteção, a que de direito
Ele é deixado sozinho à sua própria defesa
E a um homem que algum dia deveu-se repeito
Nem da própria vida agora tem certeza
Frente ao desejo daquele povo pachorrento.

6
E dali é ele levado, amarrado pelas mãos
Para um canto do morro, de todos à vista
Seu corpo indiferente aos buracos e vãos
O chão com sangue derramado risca
E marcando pontos de morte com seu excremento.

7
Chegados aos pés de uma árvore alta
Nó pronto desde noite passada em corda
Ao povo pouca coragem não falta
Nem mesmo compreensão que surgisse à borda
E da consciência surgisse como fermento.

8
Não, eram pessoas que estavam ali alucinadas
Esperando ver momento de pura diversão
Nem motivo tinha para estarem irados
E disso nem e nem ninguém veria compreensão
Apenas um ressonar de cão barulhento.

9
E fechou os olhos e deixou-se ser conduzido
Colocada em seu pescoço corda assassina
E ainda deram chance de um último pedido
Há alguns a quem a tradição fascina
E agiram livres de qualquer arrependimento.

10
O pedido dele foi anotado e aceito
O que queria é que sua história
Dos horrores que sofreu, que lhe haviam feito
Jamais perdesse um campo de memória
Em quem a ouvisse brotasse forte o sentimento.

11
Retirado o banco quando líder deu ordem
Seu corpo inerte ao sabor da brisa
E mente e espírito para os campos correm
E seu rosto, para os que o olham, frisa
Que daquela morte ninguém estava isento.

12
Que coisa tão inútil uma morte assim
Inutilidade maior ainda uma vida perdida
Que agora nem sangue pinga sobre o capim
Nem com seu sumiço deixa gente sentida
Um fim triste, vazio, em dia friorento.