segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Paisagem

 Árvores trepidam ao saber do doce vento
O campo abre-se a pés descalços e caleados
Paisagens inebriantes apreciadas de fora
Rios que se formam de águas em movimento
Ainda imagem que homens velam sem medo
Uns por trabalho e outros por diversão
Cada um à sua maneira campeia
Em cada vão, em cada torrão de grama
Um grilo, uma rã, vida em profusão
Uns passam e outros se demoram
Uns insensíveis, outros com olhos marejados
O campo e as montanhas
O córrego a seus pés
Onde nadam crianças nuas
Sem a percepção da louca vergonha
O milharal, o trigo, o arroz
Animais comendo no pasto
Casais perfilados e homogêneos
Homens sem destino e sem desespero
Imagem rápida, congelada
De um aglomerado de homens

Auschwitz

Agora sim é verdade
O momento supremo chegou
Preparemos nosso coração
Abramos nossa vaga mente
Para esperar o que virá
Saiamos pelo mundo a caminhar
Cumprimentando irmãos
Tão perdidos quanto nós
Agora sim é absoluto
Nosso fim em breve chegará
Despojemo-nos das necessidades
Abandonemos objetos estimados
Saiamos nus à rua
Pois a vergonha não cabe mais
No momento da morte do desejo
Agora sim estamos perto
Da verdade suprema final
Aceitemos e não resistamos
Caminhemos em direção ao destino
Há tempos previsto e esperado
Não importa os que não acreditam
O que vale é a fé de muitos
Lentos, caminhamos em direção
Aos que não pensam ser
Forno que queima sua carne
Que derrete e evapora seus ossos
Morte certa e gazoza

domingo, 25 de agosto de 2013

Um dia na minha vida

Ontem... o que percebi?
Que nada muda e tudo fala
Mudo, falo, mudo, falo
Então ontem senti muito frio
Se não se ouve, pensa-se
Colher resultados da criação
Ontem eu colhi
Mudo e fálico, mudo e fálico
É que não se ouve o que se quer
E fala-se sem saber-se o que
Então: falo mudo, falo surdo
Não controlar e não optar
O mudo falo fala e me muda

Criação

Totem...botem
Tudo no nada
Façam... nuvens
Delas rochas
Pulse... vida
Vegetais e animais
Evolua... homem
Força e razão
Progresso... morte
Estupidez e paixão
Guerra... lucro
Dor e solidão
Mundo... do começo ao fim!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Viagem



 E quem chega um dia pode partir...
E ela foi-se um dia
Fez frutos, que fizeram frutos, que fizeram...
Nem era o começo, nem fim
Era o meio que liga gomos
Da corrente do pai e do filho
Foi filha, mãe, avó, bisavó
Foi feliz e sofreu e um dia partiu
Mulher foi, partiu homem também
Na luta que chegou a travar
Os que deixaram não suportaram sua ausência
Mas compreenderam
Os que souberam permitir-se
Louvaram em agradecimento
O mundo fica mais vazio
Mas também fica mais mundo

Batman



Voo cego sobre a cidade da neblina
Que perseguir senão o que lhe corrompe?
E o que lhe corrompe é a lembrança da noite
E toda possibilidade dela é sinal de que
O crime não compensa a punição e o remorso
De que desejo nasce o desejo do outro
Mudar de identidade e não reconhecer a verdade
E a verdade é a verdade de um desejo
E o crime é o sinal de seu próprio crime
O morcego é o disfarce para o sangue desejado
Esquecido e transformado no que agora é
Homem-morcego compete o crime que marca
A percepção de seu próprio crime
De um crime a outro crime uma parte
Onde ele pode destruir no outro o nome
Que um dia ele mesmo quis conter